JDM
Diretamente da terra do Sushi Erótico
Eu não sou fã de Velozes e Furiosos. Pra falar a verdade, vi alguns filmes da franquia uma única vez e me dei por satisfeito. Tokyo Drift? Era um beat japonês (irritante) que todo mundo tinha nos celulares na minha época de escola, e nada mais.
Pra uma pessoa que cresceu num ambiente distante de pessoas relacionadas a carros, cujas únicas fontes eram incontáveis livros sobre Fuscas e revistas Quatro Rodas, não é difícil de entender o porquê de desconhecer quase que por completo o JDM — Japanese Domestic Market, o Mercado Doméstico Japonês.
Carros japoneses pra mim, durante muitos anos, se resumiam apenas à Civics e Corollas, e não tinham absolutamente nada de atraente. Não eram os carros de assalto pretos que todo mundo já viu em um certo filme com um cara careca e seus amigos, ou mesmo um hatch branco dirigido por um garoto com cara de paisagem, que descia uma montanha ancorado numa valeta no canto da estrada. Eram sedans prata que, de tão mundanos e tediosos, me deixavam mais animado do que um convite para assistir uma hora de TV Senado. Algo que o público alvo destes carros talvez adore.
Mas pra todo mal existe um remédio: conhecimento. Começava a era dos fóruns de internet, grupos de Facebook e dos (três) animes automotivos que moldaram o ocidente do JDM, então era uma enxurrada de novas informações a todo tempo. Civic agora era sinônimo de giro altíssimo e V-TEC, Corolla era tração traseira e “dava pau em carro muito mais potente”, e claro, o Flamengo e Vasco dos sedans esportivos 4x4: Subaru Impreza WRX STI e Mitsubishi Lancer Evolution, começou a tomar corpo no Brasil.
Tudo aquilo era fascinante, mas pra mim faltava uma coisa: sentido. Não via o porquê de tanta gente rasgando uma seda gigante pra um cupê japonês com uma asa traseira que mais parecia uma mesa de jantar (essa eu vou deixar você escolher qual), do que para Porsches ou Lamborghinis. Hoje a resposta é fácil: Best Motoring, Initial D, e Velozes e Furiosos.
IS THAT A SUPRA?
Com o frenesi dos filmes, todo mundo que sabia um pouquinho de JDM pelos Gran Turismo achou a porta do paraíso, e apesar de ser um assíduo jogador da franquia, ainda assim não fazia sentido. Mesmo com uma miríade de lugares pra aprender coisas novas sobre esse mercado de carros malucos que o Japão se recusa a dividir, o assunto era sempre o mesmo: Nissan Skyline GT-R, 350Z e Toyota Supra.
Como nunca fui chegado à drift, a correlação nunca ia clicar. Eram apenas Grand Tourers japoneses e um Nissan bolinha que apareceu em uma ou duas novelas da Globo (pouca gente se lembra, mas o 350Z foi vendido no Brasil). A imagem que eu tinha, e que a internet e algumas pessoas sempre fazem questão de frisar, é que “se não for um esportivo de lado ou com 1000cv de potência, nem vale a pena saber sobre o Japão”. Basicamente “go drifting or go home”.
Mais uma vez, ficava evidente que eu só conhecia um lado da moeda, e como a dúvida que mora ao pé do ouvido de qualquer jornalista que se preze nunca morre, achei que esses grupos e pessoas que usam desse discurso não sabiam um terço da história, então tinham mais é que pastar mesmo.
Felizmente, o JDM é muito além disso.
O estourar da bolha
Durante as gravações do PodCarro Entrevista , a primeira coisa que eu sempre pergunto à quem quer que seja é: “como você começou a gostar de carro?” E a resposta é unânime: Velozes e Furiosos. O fato dos filmes nunca terem me impressionado me impedia de ter esse gosto pelo JDM tão aflorado que todo mundo que eu conheço tem, então o negócio era procurar em outras praias. E olha que tem MUITA coisa por outras bandas.
Se superesportivos não são o seu negócio, assim como não é pra mim, existem os kei-cars. Limitados pelo espaço da ilha e por 64hp de potência, esses carrinhos parecem pouca coisa, mas durante a época do estouro da bolha imobiliária japonesa, eles afloraram. Esportivo de motor central e asa-de-gaivota? tem. Conversível fofinho que tem mais chão que esportivo europeu? tem também. Minivan girando 9 mil RPM e vinte válvulas? ô se tem.
E claro, a segunda coisa que eu mais adoro no Japão: sedans grandes. Como todo país que se preze, os mafiosos sabem que estilo e presença são bens indispensáveis, e quando você é minimamente fã da própria terra e rejeita Mercedes-Benz e BMW, continua muito bem servido.
Ok, você está descartando o que todo mundo internet afora ama, e acha isso certo? Acho sim. Não me leve a mal, os S-Chassis são lindos, e eu morro de amores pelo Skyline R31, mas acho que quando tudo relacionado ao Japão é sempre 100% imerso em drifting, você se priva de conhecer as outras coisas, igualmente tão boas quanto.
O JDM é ainda mais fascinante quando falamos de itens de personalização, por exemplo, mas isso por si só é tão extenso, que acho que merece uma segunda parte só dela. Por enquanto, fica a reflexão de que o mercado doméstico japonês não é apenas feito de animes, grupos de Facebook monotemáticos ou de carros japoneses montados nos EUA e chamados falsamente de JDM. Mergulhe de cabeça, pois é o melhor poço sem fundo possível.