
Lua e Estrela
Imensidão é pouco
Eu não costumo dormir tarde, talvez um preço que pago por passar anos da graduação virando a madrugada estudando, e por ser o único horário onde conseguia focar em mim mesmo, sem quaisquer barulhos ou distrações.
Numa dessas raras ocasiões recentes, deixo minha sala e me vejo na varanda, em plena 1h da manhã, olhando pro céu. A madrugada fria não me importa muito e tampouco entorpece, o frio na Guanabara é sempre muito bem vindo. Acima de tudo, a lua, cheia e imponente, pairava. Ao seu redor, poucas estrelas.
Me peguei pensando no quão bonito é ver o nascer da noite na praia, onde a lua mais parece um queijo bola no céu. Fazem anos desde a última vez que fiz isso, e morando onde moro isso é quase utópico. Aquela lua, já bem diminuída e distante, flutuava num céu degradê, entre o cinza escuro da noite sem nuvens e o branco dos postes de rua, à LED.
O silêncio da madrugada, o fato de não haver uma viva alma na rua e poder contemplar a imensidão me fez pensar sobre a vida. Esse foi um ano bem difícil, com muitos percalços, situações e pessoas para deixar para trás.
O alívio de se estar distante de tudo aquilo que me atormentava era tão certo e real quanto a luz da lua. Voltei à sala, peguei meus fones e deixei que “Lua e Estrela” do Caetano fizesse algum efeito em minha mente.
Não havia um porquê para aquela música, além do título, que enunciava o momento em que se estava. Via naquele momento uma rara oportunidade de abraçar o silêncio da noite, parar de pensar por pouco que fosse, e ser grato por tudo até então.
Coisas que sempre quis ter mas nunca tive a oportunidade, eram enfim possíveis, e até mesmo próximas, ainda que à sua estranha maneira. Todas fruto do meu empenho e de nunca desistir daquilo que considero correto, benéfico ou mesmo necessário. Também ponho uma coisa ou outra na conta do destino.
Claro, ainda restam dúvidas sobre tudo e todos, mas aquele não era o momento para pensar nelas. Eram apenas o céu saia-e-blusa, o frio, os corpos celestes e um tonto entorpecido de sono. O que mais viesse acabaria se perdendo assim que eu dormisse, era inevitável.
As vezes é bom olhar a lua, mesmo de dentro da selva de pedra.
Que viagem é essa, véi.