
PodCarro Web Teste: Fiat Uno 1.6R by Dino
A melhor dos Uno R ao alcance dos dedos
Hoje o PodCarro faz um algo inédito, que você não vão encontrar em nenhuma revista automotiva concorrente: testar um carro de videogame. Sim, o primeiro teste do programa foi feito no jogo para PC Assetto Corsa, e teve as opiniões feitas por este que vos escreve. O teste é sobre um dos meus veículos favoritos, e que apesar de já ter andado e convivido com ele no longínquo ano de 1996, não teria a mínima condição de fazer um review detalhado, pois só tinha alguns dias de recém-nascido: o Fiat Uno R.
Porém, antes do teste em si, vamos te situar das condições em que a avaliação foi feita. Assetto Corsa é um simulador de corridas famoso entre pilotos profissionais e amadores, e também atrai jogadores casuais, graças a sua grande capacidade gráfica de reproduzir fielmente circuitos e pistas ao redor do mundo, além de ser bastante elogiado quanto a mecânica e variedade dos carros oferecidos no jogo. Porém, esta matéria não seria possível sem a comunidade dos mods, jogadores que se empenham em criar pistas e carros que não são oferecidos pelo jogo de maneira oficial, e acabam criando combinações de veículos e cenários quase impossíveis na vida real, como você verá mais pra frente. Mas, de volta ao Uno.

Oferecido no Brasil pela Fiat em 1986, o Uno R começou a vida com motor 1.5 Sevel, que com modificações mecânicas feitas pela fábrica rendia 85cv e 12,9kgfm de torque, algo satisfatório para um veículo ágil e leve, mas não o suficiente para brigar em pé de igualdade com Gol GT 1.8, Passat GTS Pointer e Monza S/R. Em 1990, entra em ação o Uno 1.6R, agora com 88cv e 13,7kgfm de torque, no modelo à Álcool. Considerado um salto evolutivo frente ao 1.5, o 1.6R empolgava, e foi aclamado pela imprensa especializada como um dos esportivos nacionais mais rápidos da época.

O Web Teste
Sem a menor das condições para descolar um Uno 1.6R legítimo para tirar minhas impressões ao vivo, resolvi recorrer ao digital. Mesmo depois de ler e reler matérias de época contando os acertos e defeitos do pequeno Fiat esportivo, precisava saber se ao menos a versão eletrônica do carrinho realmente fazia jus aos escritos do passado.
A versão digital do carro foi finalizada pelo perfil do Twitter Dinossaurin, e é de uma qualidade ímpar. As dimensões, formatos, rodas e detalhes externos do Uno foram reproduzidos quase à perfeição, não deixando quase nenhum espaço para críticas. Se você perdoar um pouco a qualidade das fotos e voltar uns 30 anos no passado, poderia dizer que são imagens praticamente reais.

O teste virtual do Uno R foi realizado no saudoso circuito de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, algo que, mais uma vez, somente a magia dos mods poderia permitir, uma vez que o autódromo fora demolido em 2013. De pronto, você é recebido pela tela que precede o início do jogo, e toma um susto com a quantidade de detalhes na interna do Uno R. A forração dos bancos, o volante de quatro raios e a faixa alusiva à versão todos perfeitamente bem colocados e nos seus devidos lugares, tudo ajudando a compor a visão de um contato quase real com a pilotagem.
Ao dar início ao jogo, a porta se fecha e você se depara com o painel, no modo de primeira pessoa. A qualidade do velocímetro e demais instrumentos impressiona, e conforme você acelera o conta-giros acompanha, trazendo o som áspero dos quatro cilindros, que lembra muito o ronco original do Sevel, e isso por si só já um dos pontos fortes do Uno digital. Dirigindo pelo teclado, preciso me concentrar em prever com antecedência todas as frenagens e retomadas, já que as teclas só permitem respostas de 100% de força quando pressionadas, então toda aceleração e pisar dos freios são para matar ou morrer.

A visão em terceira pessoa não deixa por menos, onde você pode notar que o Uno digital não faz feio quando o assunto é replicar a versão real. A maioria dos detalhes são respeitados à um nível muito alto, algo agradável de se ver.

Dirigibilidade
Depois de uma volta inicial para pegar direitinho o feeling do carro e da pista, resolvo soltar o Uno de vez. Já sabendo que em jogos de corrida o medo de destruir uma transmissão, motor ou o próprio carro não é algo que preocupa, nada mais natural que dar à máquina o mesmo tratamento que se daria a um frango de padaria: assá-lo.
Logo na reta dos boxes estico o Sevel e já bato de frente com o primeiro contraponto descrito por vários jornalistas em testes de época: o câmbio. Na vida real você precisa engatar a marcha até o final do curso e SÓ DEPOIS remover o pé todo da embreagem, sob pena dela “gritar” com você sem necessidade. Mania que toda caixa Fiat dessa época tem (e até os carros mais recentes isso continua, a experiência e os relatos de amigos não deixam mentir), um processo longo. No digital, basta teclar na hora certa, tirar o pé do acelerador e pronto, zero drama. É claro, estou num teclado e num volante as coisas seriam diferentes, mas duvido que tão diferentes assim do que descrevi agora. Ponto para o digital.
As desacelerações são um show à parte. Você tira o pé (ou seria o dedo?) em alta, e o escapamento crepita, parecendo que você está realmente dirigindo o carro real. Se você procurar por vídeos de época ou até mesmo testes modernos com carros assim, verá que é exatamente a mesma coisa, sem os exagerados “pops and bangs” de hoje em dia. Pra mim, e sem a menor chance de imparcialidade, uma das características mais adoráveis desse carro.

O giro que sobe rápido somado às trocas rápidas e até mesmo punta-taccos amigáveis por parte do jogo tornam a experiência muito agradável. A aderência do carro é outro ponto elogiável, que permite desde uma condução mais focada em precisão, até umas jogadas mais agressivas, como seria um Scandinavian Flick. Tudo é muito bem tolerado no Uninho, mas nem tudo são flores.
Onde o bicho pega
Em frenagens muito fortes, algo que pode ser comum no teclado, existe a tendência das rodas traseiras em travarem, tornando o carro arisco quando o assunto for frear com tudo. Porém, considerando o contexto de um carro dos anos 90 e sem freios ABS, é perfeitamente normal esperar algo assim ou até mesmo pior. Pra galera que gosta de um comportamento mais “Marcas e Pilotos”, “Fórmula Uno” ou mesmo “Turismo Nacional”, a traseira solta é uma característica marcante, sugerindo a saída de traseira como algo primordial para corrigir o trajeto do carro em curva, mesmo se tratando de um veículo de tração dianteira.

De resto, a aceleração é realmente o que os stats do jogo sugerem. Em 5 passagens de 0 a 100, todas ficaram na casa dos 11s, com velocidade máxima registrada de 192km/h (registrada fora do circuito de teste), mostrando que horas de trabalho podem sim criar uma réplica digital quase perfeita. Pra quem quiser, abaixo estão as informações dispostas pelo autor do projeto no jogo:

Mas o melhor desse carro não é guiá-lo em pista. Réplica que se preze precisa parecer boa na rua também, então porque não aproveitar que não há barreiras no mundo digital, e testar o Uno em um lugar inusitado? Assim fizemos.
Domo arigato, Mr. Giugiaro

Acho que a maior loucura em termos de gostar de carros nacionais é imaginá-los em contextos completamente aleatórios, e no caso, um Uno feito em Betim rodando no Japão. Felizmente, o Assetto Corsa e seus modders podem proporcionar esse tipo de loucura.
Já tendo provado as capacidades do Uninho em pista, nada mais justo que ver como ele se sairia no contexto ideal de todo fã de carro: um nightdrive numa das mais famosas autovias japonesas: a Shuto Expressway, que imita perfeitamente a versão original, existente em Tóquio. E já adianto, o bicho impressiona.

Cortar uma avenida vazia ao belo som do motor crescendo entre marchas é algo viciante na vida real, e no virtual não fica muito atrás. O 1.6R vai embalando tudo no pacote: desde alguns tímidos backfires notados pra quem vai na terceira pessoa, como o painel verde florescente te indicando velocidade e rpm, tudo combinando para você pensar que é mais uma volta pra casa depois de um dia estressante de trabalho ou faculdade, e tudo que te resta é provocar o Sevel para te contar tudo o que sabe.
Nas largas pistas e com poucas curvas, o Uno cresce e logo se estabiliza, e até iria mais longe se tivesse uma sexta marcha, mas seria dar mais trabalho do que o valente motor pode aguentar. Se os testes de época davam conta de uma velocidade máxima por volta de 160 km/h, no “teste noturno”, o painel e a telemetria passavam bem mais que isso, com um pico de 192 km/h, onde já não havia mais caixa o suficiente para a brincadeira.

No quesito detalhes, apenas a interferência das luzes externas no painel aceso causavam estranhamento. Numa pista com setores bem iluminados como Shuto você nem precisa da luz do painel, mas é um charme pra lá de necessário. Imersivo, eu diria.

A condução por si só parece mais crua de noite, mas talvez isso seja só eu mesmo. Dirigir um dos carros dos seus sonhos (que se fosse o 1.5R eu teria carta branca pra usar a desculpa história do “Eu saí da maternidade nele”) é algo que eu não só poderia recomendar como atesto com louvor a qualidade do projeto. E não falo isso pelo fato do autor ter sido gentil o suficiente de fazer até uma réplica exata do meu carro, mas é porque o negócio é bom mesmo.


Até quando o teste chega no fim o Uno continua surpreendendo. Fruto da minha completa desatenção à mais de 160 por hora, acerto a mureta com tudo e o painel do carro apaga no mesmo instante, e o Fiat vai pras cucuias.

Resumo da ópera: dos muitos mods que eu já “guiei” até hoje, esse é indiscutivelmente um dos melhores. Ficam meus préstimos ao Dino por ter produzido, afinado e melhorado cada detalhe do 1.6R, que você e todo mundo devem jogar. O link para o Uno 1.6R 1990 está no perfil dele, que você encontra aqui.

Voltaremos na próxima com mais um PodCarro (Web) Testa, até lá!